Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a  Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todos os cristãos e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.

O texto base reflete a dimensão da vida em sociedade que se baseia na convivência coletiva, com leis e normas de condutas, organizada por critérios e, principalmente, com entidades que “cuidam do bem-estar daqueles que convivem”.

Na apresentação do texto, o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, explica que a Campanha da Fraternidade 2015 convida a refletir, meditar e rezar a relação entre Igreja e sociedade.

“Será uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos”, comenta dom Leonardo.

Segue uma reflexão sobre o tema:
SOBRE O PAPEL SOCIAL DA IGREJA, LEMBRANDO A FALA DO PAPA JOÃO XXIII “A IGREJA É DE TODOS, MAS PRINCIPALMENTE QUER SER UMA IGREJA DOS POBRES”. COMO O SENHOR ANALISA A AÇÃO LIBERTADORA DA IGREJA PARA OS MAIS POBRES AO LONGO DESSES 50 ANOS?

 

Frei Betto – A “opção pelos pobres” predominou nos últimos 50 anos, sobretudo na América Latina. Hoje ela consta mais nos documentos eclesiásticos que na prática da Igreja Católica. A presença dos pobres na Igreja, através das Comunidades Eclesiais de Base e das pastorais populares, suscitou a Teologia da Libertação. Isso assustou Roma, pois seus adeptos, ao questionar as elites opressoras, questionavam também bispos e instituições da Igreja comprometidos com essas elites.

Hoje, por força dos movimentos espiritualistas importados da Europa, quase já não se pratica na Igreja Católica a opção pelos pobres. Os pobres preferem as Igrejas evangélicas… Assim, os direitos dos pobres, como a reforma agrária, são pouco defendidos pelos bispos católicos.
Padre Marcial Maçaneiro – A predileção pelos mais necessitados é um valor do Evangelho, vivido pelo próprio Jesus e os apóstolos. Várias vezes isto é presente na orientação dos apóstolos, como Paulo, Pedro e Tiago. Jesus mesmo afirmou: “Tudo o que fizerdes a um desses meus irmãos, mais pequeninos, é a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Também entre as virtudes teologais, a caridade vem em primeiro lugar: “Estive como fome e me destes de comer; estive maltrapilho e me vestistes; doente e cuidaste de mim” (Mt 25).

Contudo, ao lado da caridade individual, zelosa no contato entre as pessoas, a Igreja promove a caridade social: articulada, programada, com base em métodos eficazes, mirando às mudanças estruturais que promovam mais justiça para os indivíduos e as sociedades. Foi a partir daí – sempre sob a luz da Bíblia e dos grandes santos – que a Igreja desenvolveu a sua Doutrina Social. Isto cresceu e se organizou, em nível mundial (Cáritas, Pão para o mundo, Ajuda à Igreja que sofre, Misereor etc) e em nível local, com as Pastorais Sociais das dioceses.

Tal cuidado com os pobres (doentes, órfãos, migrantes etc) nunca faltou, ao longo dos séculos. Mas precisava se organizar com agentes preparados e métodos adequados aos novos tempos, diante das novas democracias, das ditaturas ainda existentes, da classe operária, da economia global e da revisão geral do Direito garantidor da dignidade e dos bens básicos para os cidadãos.

Desde o Vaticano II para cá, este “serviço social da caridade” cresceu e se consolidou: temos as Caritas mais presentes, novas campanhas, Fóruns de Justiça e Paz, defensoria pública motivada pela Igreja, com as Pastorais Sociais articuladas em muitos países e cidades: Operária, Migrantes, Mulher Marginalizada, Menores, Direitos Humanos, etc.

O que hoje nos desafia, falando dos últimos dez anos, é que se acentuou uma “cultura do individualismo” muito forte, afastando as pessoas da solicitude social: enquanto as organizações avançam, com novos serviços, tem gente que se anestesia e se faz inerte diante das questões sociais, vivendo até uma fé um pouco distante daquilo que Jesus ensinou sobre as obras de misericórdia.

Este é o desafio recente, para o qual ajuda muito uma retomada firme do Vaticano II, especialmente do documento “Gaudium et spes” (Alegria e esperança), que é o documento social da Concílio.