Em meio ao Ano Jubilar, que marca o 1.700º aniversário do primeiro concílio fundador da Igreja, o de Niceia, a Comissão Teológica Internacional, com o endosso expresso do Papa Francisco, está lançando um documento intitulado “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. 1700º aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia (325-2025) da Comissão Teológica Internacional”.

O documento visa lançar as bases para um caminho sem volta em direção à unidade cristã, com base no Credo Niceno, reconhecido como “o documento de identidade dos cristãos”, e na promoção da sinodalidade entre os seguidores de Jesus. Ao longo de 70 páginas são traçadas as reflexões sobre o presente e o futuro do ecumenismo, em torno da atualidade dogmática de Niceia.

O que o texto diz? Em primeiro lugar, os teólogos param para recordar o “significado fundamental” do Concílio convocado por Constantino e do Credo que dele emergiu.

"Não é simplesmente um texto de teologia acadêmica", acrescenta o Vatican News, mas sim "é proposto como uma síntese que pode acompanhar o aprofundamento da fé e seu testemunho na vida da comunidade cristã". Em um momento de busca pela unidade, Niceia se apresenta como “um ponto de referência e inspiração” no processo sinodal no qual a Igreja Católica está engajada.

 

Papa Francisco e Patriarca Bartolomeu

De fato, há mais coisas que nos unem do que nos separam.

O que é? “Todos nós cremos no Deus Trino, em Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, na salvação em Jesus Cristo, segundo as Escrituras interpretadas pela Igreja e sob a inspiração do Espírito Santo. Todos nós cremos na Igreja, no batismo, na ressurreição dos mortos e na vida eterna”.

"Cremos enquanto batizamos; e rezamos enquanto cremos", afirma o texto, exortando-nos a beber juntos "daquela fonte de água viva" representada pelo Credo, pela oração e pelos hinos do século IV, quando a Igreja não havia sofrido nenhum de seus grandes cismas.

O documento também elabora sobre 325: "Pela primeira vez, bispos de todo o Oikouménè se reúnem em um Sínodo. Sua profissão de fé e decisões canônicas são promulgadas como normativas para toda a Igreja".

"A comunhão e a unidade sem precedentes provocadas na Igreja pelo evento de Jesus Cristo tornam-se visíveis e efetivas de uma nova maneira por meio de uma estrutura de alcance universal, e a proclamação da boa nova de Cristo em toda a sua imensidão também recebe um instrumento de autoridade sem precedentes", enfatiza o texto, oferecendo uma perspectiva positiva sobre a possibilidade de que isso aconteça no futuro.

Por fim, o texto reivindica “a fé pregada por Jesus aos simples”, que “não é uma fé simplista”, e enfatiza como “o cristianismo nunca se considerou uma forma de esoterismo reservada a uma elite de iniciados”. Pelo contrário, Niceia representa “um marco no longo caminho rumo às libertas Ecclesiae, que é em toda parte garantia de proteção da fé dos mais vulneráveis ​​diante do poder político”.

E, também, “confirma a doutrina católica da infalibilidade in credendo dos batizados”. "Embora os bispos tenham um papel específico na definição da fé, eles não podem assumi-lo sem fazer parte da comunhão eclesial de todo o Santo Povo de Deus, tão caro ao Papa Francisco", conclui o texto.

Em suas conclusões, o documento faz um convite urgente a "proclamar a todos hoje Jesus, nossa Salvação", partindo da fé expressa em Niceia em uma multiplicidade de significados, e sem "ignorar a realidade" nem nos afastar "dos sofrimentos e das convulsões que atormentam o mundo e parecem comprometer toda esperança", ouvindo a cultura e as culturas.

O texto conclui exortando-nos a estar “particularmente atentos aos últimos entre os nossos irmãos e irmãs”, porque “estes crucificados da história são Cristo entre nós”, isto é, “os mais necessitados de esperança e de graça”. Mas, ao mesmo tempo, conhecendo os sofrimentos do Crucificado, eles são por sua vez “apóstolos, mestres e evangelizadores dos ricos e abastados”.

Por fim, o documento nos convida a proclamar como Igreja, “com o testemunho da fraternidade”, mostrando ao mundo as maravilhas pelas quais ela é “una, santa, católica e apostólica” e é “sacramento universal de salvação” e de unidade, diante de Satanás, o divisor.

- Esta reportagem é de Jesus Bastante, publicada por Religión Digital, 03-04-2025.

Nota do IHU

A íntegra do documento "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. 1700° aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia (325-2025) da Comissão Teológica Internacional" pode ser lida, em português, aqui.