O número de alunos pretos e pardos nas universidades federais do país mais do que triplicou em 13 anos. 2009 foi o primeiro ano em que se registrou informação sobre a raça/cor dos matriculados nas universidades federais. Naquele ano135.121 estudantes se autodeclaravam pretos e pardo; em 2022 o número saltou para 515.699.

Os dados são de um estudo feito pelo Sou Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com base em dados do Censo do Ensino Superior realizado anualmente pelo MEC (Ministério da Educação).

Dos 515.699 universitários que se autodeclaram pretos e pardos, 241.443 entraram pela Lei de Cotas. Quer dizer, a maioria ainda chega às federais sem cotas. O estudo mostra que houve significativo aumento desses estudantes também por vagas de amplo acesso, ou seja, que não são destinadas a cotistas.

“As cotas mudaram a cara do nosso ensino superior. Não fosse a reserva de vagas, nós não teríamos tantos jovens pretos e pardos estudando nas universidades federais”, diz Maria Angélica Minhoto, uma das responsáveis pelo estudo.

Apesar do aumento, os pesquisadores destacam que o percentual de pretos e pardos ainda é baixo frente à dimensão da população negra no país. O último Censo do IBGE mostrou que 55,5% da população se autodeclara preta ou parda -e apenas os pardos são 92,1 milhões de habitantes (45,3% de todos os brasileiros).

“Houve um aumento expressivo, mas ainda não alcançamos o ideal.” Para ela, é preciso melhorar a comunicação com os jovens que estão no ensino médio, já que muitas das vagas destinadas às cotas (tanto as reservadas para egressos de escola pública como as raciais) ainda ficam ociosas e acabam sendo destinadas para a ampla concorrência.

“Isso mostra que os jovens que estão na escola ainda não sabem que o ensino superior pode ser para eles, seja porque eles não receberam orientação seja por não acreditarem que podem ser aprovados. Também há aqueles que desistem da graduação por não terem condições financeiras”, diz a especialista.

Por isso os estudiosos ressaltam que a maior presença de pretos e pardos nas universidades depende também de políticas de permanência estudantil. O programa Pé de Meia, lançado neste ano, é uma das ações que podem ajudar a incentivar mais jovens da escola pública e de famílias vulneráveis a entrar no ensino superior. O programa prevê uma bolsa mensal de R$ 200 para que alunos do ensino médio não abandonem a escola, além de uma poupança com depósitos anuais de R$ 1.000 -tais valores só podem ser sacados ao fim do ensino médio.

Caso o aluno participe do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ainda há mais um pagamento, de R$ 200. O objetivo do governo é, além de manter os jovens na escola, incentivar que participem do exame, principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil.

Fontes: Redação Jornal de Brasília e Isabela Palhares - Folhapress