No dia 4 de março de 1983, Irmãs Suzana e Jeane chegaram a São Félix do Araguaia para se integrar à equipe pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia. Fomos acompanhadas por Irmã Jamesine, Presidente da Congregação, e Irma Barbara, Coordenadora da Região Brasileira das ISJR. Fomos acolhidas por Pedro, bispo da Prelazia, e em seguida, fomos de voadeira Rio Araguaia abaixo, para Sta. Terezinha, onde conhecemos Canuto e Irena, da equipe local. Daí começou uma caminhada que nos marcou profundamente.

Nos anos seguintes, Irmãs Marlena, Joana, Maura, Dolores e as postulantes Maria José e Bete também conviveram e trabalharam com as comunidades da Prelazia de São Félix do Araguaia, em vários municípios: Sta. Terezinha, Vila Rica,Ribeirão-Cascalheira, Aldeia Karajá em Luciara, Confresa e Porto Alegre do Norte. Ao longo de 22 anos tivemos o privilégio de fazer parte da construção de um modelo de Igreja-Povo-de-Deus, sem hierarquias. Nem usávamos os títulos de leigo, leiga, padre, irmã, bispo... Nós nos chamávamos por nome, não categoria. A convivência com o povo naqueles anos e com a equipe pastoral, Pedro no meio, nos marcou profundamente.

“Do Araguaia até o Xingu, do Pará ao Travessao, Prelazia de São Félix, Povo de Deus no Sertao! Nas águas, nas terra, na Ilha e na Serra, nas mata, nas aldeia, na rua, na estrada, um só Povo em caminhada, que lutando, unido vai, buscando a Casa do Pai.” (Hino da Prelazia)

Foram anos em que as comunidades enfrentavam a violência do Latifúndio e Pedro, firme e forte não deixava dúvida de que lado ele estava: do lado do povo, dos pobres. No fim de 1983 houve assassinatos de um posseiro e de um trabalhador rural, e no cemitério em Porto Alegre do Norte, Pedro nos disse em alto e bom tom, que o pistoleiro não era o inimigo, era um trabalhador usado e descartado; o inimigo era o Latifúndio. Neste momento pronunciou: Ai, de ti, Frenova, Ai de ti, Piraguassu, e excomungou os donos e altos funcionários das duas fazendas responsáveis pelas mortes violentas (pagavam os pistoleiros na entrega das orelhas das vítimas).

Outro momento forte foi a inauguração do Santuário dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão Bonito, em 1986, onde Pedro propôs guardar a memória dos mártires da caminhada, não somente do assassinato do Pe. Joao Bosco Burnier, que aconteceu em Ribeirão Bonito em 1976. Desde então, de 5 em 5 anos, nos reunimos em romaria, carregando a cruz do Pe. Joao, e acolhendo imagens dos e das mártires da caminhada de vários pontos do Brasil.

Pedro Casaldáliga morreu no dia 8 de agosto de 2020. O povo a caminho, Pedro no meio, é a imagem indelevelmente gravada em nossos corações.