Escrito por Ir. Maura Finn, ISJR Rio de Janeiro, 16 de junho de 2012

Hoje, 16 de junho de 2012, faz seis dias que estou no Rio de Janeiro, participando da Conferência da ONU Rio +20 e dos eventos alternativos em torno da Cúpula dos Povos. Os dois eventos acontecem nos lados opostos da cidade, a Conferencia oficial no Rio Centro, no extremo sul e a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo. A distância entre os eventos não é somente geográfica.

Quaisquer e todas as pessoas podem entrar na Cúpula, organizada em encontros temáticos com apresentações de milhares de grupos, embaixo de tendas (grandes e pequenas, mas bem estruturadas, iluminadas, com cadeiras para todos/as, som, sistema de projeção de imagens, e às vezes traduções em Inglês, Espanhol, Português). O espaço é lindo, ao lado de Baía de Guanabara.

Assisti uma apresentação sobre os Oceanos em espanhol, com apresentadores de várias partes do mundo preocupados com as áreas marinhas que precisam de proteção, pois ficam fora das respectivas jurisdições nacionais. Estavam pedindo com urgência um plano para salvar os Oceanos: um novo acordo dentro da Convenção sobre a Lei de Oceanos.

Outro dia nesta concentração da Cúpula dos Povos participei de uma Celebração Macro-Ecumênica pela Paz, animada por grupos com crenças e espiritualidades pouco conhecidas (pelo menos por mim) e pouco valorizadas. Judeus, Cristãos, Muçulmanos e Budistas também participaram, um coral de crianças da LBV cantou com alegria sobre a nossa Casa, o Planeta Terra.

Pouco depois, numa outra tenda a CNBB realizou uma apresentação coordenada por Dom Guilherme, Bispo de Ipameri, GO, que apresentou um membro do povo Hunikui do Acre; Marizélia, uma militante do Movimento de Pescadores/as e Quilombolas; e Tatiana, uma mulher de SC, representante do grupo de Afetados pelos Desastres Climáticos. Todos falaram com muita clareza sobre a luta pela terra, pelos direitos, pela justiça. Muitas famílias de SC ainda não têm casas para morar, desde o desastre que matou 35 pessoas em 2008. Fiquei tocada quando ouvi a Tatiana falar que ficou mais militante depois deste desastre em que 14 de seus parentes morrerem. Ela denunciou a atitude do Estado, pois os afetados não querem ser tratados como vítimas, têm condições de se erguer. Simplesmente precisam que o governo libere o dinheiro destinado a estas famílias.
No Rio Centro a Conferência Rio + 20 é organizada pela Organização das Nações Unidas. Quando cheguei de Goiânia fui para lá, fazer o credenciamento. Cada pessoa apresenta seu crachá oficial e passa pelo detector de metal e por muito policiamento da ONU, cada vez que entra o espaço. Há um grande pavilhão com inúmeras salas, onde grupos de trabalho estão olhando o documento oficial da Conferência, palavra por palavra, tentando fazer modificações no texto. Poderíamos ficar em pé, para observar o processo. Cansei logo como observadora e me dei conta de como este trabalho de negociação deve ser muito árduo. Presenciei a discussão sobre o parágrafo 52 a 54, onde as nações do G 77 queriam preservar uma frase mais o menos no seguinte sentido - “ ... os paises desenvolvidos precisam encorajar seus cidadãos a consumirem menos.” O coordenador deste grupo chamou um representante destes paises e ele falou, depois outros dois falaram, mas no fim a frase foi eliminada.
Um pouco adiante há uma tenda enorme dividida em salas onde 100 a 180 pessoas podem sentar, e assistir apresentações o dia todo, organizadas por ONG’s, outras organizadas pelos órgãos governamentais. Ontem assisti a um grupo apresentado pela Ministra de Suécia e ela iniciou explicando como carbono negro que está acelerando o degelo na região, Ártica num ritmo três vezes mais rápido do que a ICCP (Conferência Internacional sobre nuvens e precipitação) pensava poucos anos atrás. O gás de carbono negro, que é mais poluente que CO², tem vida curta, de 6 a 8 dias, causa aquecimento global, poluição do ar e diminuição da produção de alimentos. Seis paises começaram uma Comissão para reduzir poluentes de curta vida. Agora todos os membros do G8 entraram nesta comissão, incluindo a Rússia, que é essencial.
Quatro cientistas, de Canadá, do Himalaia/Nepal, dos Andes/ Peru, e da Suécia, tinham 10 minutos para apresentar informação que poderia ter gasto horas! Falaram da necessidade de ter leis sobre a redução de emissões de gases de carbono negro, e do impacto na cultura e na saúde das populações afetadas nestas áreas – no Ártico, no Nepal, nos Andes. Eu não sabia nada sobre estas áreas e populações afetadas, nem sobre o gás carbono negro. Tudo foi apresentado em inglês sem tradução, e quem não entendia inglês precisava achar outra sala e outra apresentação.

Logo após este assunto passei para uma outra sala onde os Franciscanos e Dominicanos organizaram quatro apresentadores sobre Agroecologia. Duas falaram mais da experiência concreta de algumas comunidades em Sri Lanka e Argentina que usam este tipo de agricultura. Depois Miguel Altieri, Presidente da Sociedade Latinamericana para Agroecologia apresentou informação mais cientifica. Hoje mais de um bilhão de pessoas passam fome, e a agricultura industrializada não conseguiu eliminar a fome. A quarta pessoa para falar foi Leonardo Boff, que iniciou dizendo que economia verde tem elementos positivos no sentido de preservar a natureza, mas tem dois limites: não olha a desigualdade entre quem come e quem não come; e não olha a questão da cultura de consumo.

A economia verde ainda está baseada no antigo projeto de crescimento sem limites. Por isso pode promover uma grande perversidade, colocando um preço monetário em todos os bens da natureza. Bens essenciais para a vida, como água e sementes, não podem ser comercializados. Para Boff não se deve usar o termo sustentabilidade como um conceito da economia, pois a economia capitalista precisa crescer sem limites. Sustentabilidade é um conceito mais amplo do que economia, é interdependência, é ação includente, é cooperação entre todos. Precisamos cultivar a sustentabilidade do Planeta Terra, da Vida Humana, da sociedade humana, de cada pessoa – e atualmente uma grande parte da humanidade vive em condições insustentáveis.

Que tipo de desenvolvimento cria esta sustentabilidade? Esta pergunta é o cerne da discussão na Rio +20! Agroindústria está fundada em conceitos como: energia barata e abundante; tecnologia que resolve todos os problemas, e clima estável. Ela tenta dominar a natureza, enquanto a agroecologia busca cooperar com e adaptar-se à natureza.

No sábado de manhã passamos 2 horas na praia de Copacabana! Uma pequena parada nesta semana cheia de grandes sonhos e poucos resultados, de longas viagens de ônibus, de ouvir o mundo em vozes diversas, de sonhar comunhão e ver a realidade tão dura que não consegue avançar. Tudo numa cidade cheia de contrastes - a riqueza enorme e a beleza exuberante da natureza ao lado de uma pobreza marcada pelas pessoas dormindo nas calcadas desta cidade maravilhosa.